domingo, 11 de abril de 2010

Joelhos pretos

Quando eu era criança de joelho preto sujo de barro seco e trepava nas raízes do abacateiro, tinha dentro de mim corredeiras.
Mas um dia acordei, abri a janela como de costume e senti nojo ao olhar o meu quintal, da terra úmida, dos abacates estourados no chão, dos bichos pequenos que por ali moravam, dos frutos bichados, senti nojo do lodo.
Limpei os joelhos, a água secou e as pedras que rolavam, pararam. Me botei a andar e nunca mais o quis.
Agora acordo aqui, depois de tanto tempo voltei a ter necessidade de ter o joelho sujo e a pele cinza.
Reencontro o abacateiro, os bichos, a lama, os cheiros.
Quero voltar a sua sombra e abraçar novamente seu tronco acolhedor, ver por entre as folhas uma leve luz.
Já tomo banho gelado e ando descalça no mato, já me pinduro e equilibro novamente. Quase ouço meu cachorro latir.
Percebo hoje que a angústia, o nojo que me tomava conta quanto limpei os joelhos, está aqui de volta ou nunca foi.
Andei o mundo como pensava ser, mas ela não andou continua aqui.
Quero balançá-la no braço do abacateiro, subir nele como nunca tive coragem.
Vou chorar de novo, precisar de colo.
Beijar Vó e Vô, onde estiverem.
Cheiro de manga no pé, barulho de abacateiro caindo...ameixa doce, amor em frutos, que saudade...
Eu que sempre quis crescer, cresci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário